Notícias da periferia no centro das atenções

“A mídia aumenta muito quando fala da violência e parece que não tem nada de bom a ser mostrado aqui”. É o que afirma o criador do jornal “Voz da Comunidade“, Renê Silva. O jovem de 17 anos mora no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro e assim como os correspondentes do Blog Mural dissemina informações de um lugar periférico por meio de um veículo de comunicação. Para ele é muito importante que a mentalidade das pessoas mude com relação aos bairros mais esquecidos pelo poder público porque o preconceito diminui, seja no Rio, São Paulo ou em qualquer outro lugar.

A vontade de seguir na carreira jornalística vem desde cedo. Renê começou a escrever notícias com 11 anos em um jornal escolar, quando fazia parte do grêmio estudantil. O conteúdo era basicamente sobre o que acontecia no colégio. Porém, o garoto já tinha dentro de si um espírito inovador. Em uma conversa com a diretora teve a ideia de fazer um jornal para os moradores do Alemão com o objetivo de ajudá-los com os problemas que enfrentavam no dia-dia. Nascia assim o “Voz da Comunidade”, que antes era feito com uma folha A4 e hoje tem 16 paginas e uma tiragem de mais de 3.000 exemplares. “Aprendi a mexer no computador e nos programas que eram necessários para fazer o jornal na época do grêmio”, lembra.

No começo o rapaz era quem desempenhava todas as funções jornalísticas. Com o tempo, se juntaram a ele Gabriela Santos, Débora Mendes, Jackson Alves e Igor Santos, amigos de Renê que já tinham um envolvimento em projetos sociais na comunidade. Renê conta que seus pais apoiavam a ideia, mas tinham medo no início do menino sair à noite para fazer reportagens devido à violência.

A equipe de repórteres já conseguiu alguns feitos importantes com o jornal. Um deles foi a resolução dos problemas que uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) causaram no Morro do Adeus. Recentemente a turma também relatou por meio do Twitter a ocupação do Alemão pelo BOPE e pelas forças armadas no final de novembro. O objetivo dessa ação era tirar o controle do tráfico na região, como tinha sido feito um dia antes na Vila Cruzeiro. “A gente conseguiu levantar um sentimento de esperança nas pessoas. Muitas empresas também se mobilizaram e começaram a dar apoio aqui”. Dessa forma o “Voz da Comunidade” se tornou o principal informante do local e Renê passou a ser requisitado para participar frequentemente de ações no Complexo.

Um dos eventos que o jovem participou há pouco tempo foi o natal. Em parceria com a Agência Peppers, o banco Santander, o AfroReggae e a associação de moradores, guirlandas e presentes foram distribuídos e uma árvore de natal de 20m foi erguida no alto do Morro do Adeus. “Fazer o jornal é um grande aprendizado para mim. Cada vez mais conheço o lugar onde moro e uma parceria como a que aconteceu no natal é muito importante, porque também é uma maneira das pessoas conhecerem ainda mais o nosso trabalho”.

Renê conta ainda que desde que começou a atuar como um “correspondente comunitário” passou a ter mais responsabilidade e ganhou a admiração de muitos. “Virei um exemplo para algumas pessoas, que começaram a noticiar as suas comunidades antes esquecidas pelos grandes veículos de imprensa. Já estou sabendo que querem fazer um jornal comunitário na Vila Cruzeiro! Espero que cada vez mais os bairros da periferia sejam conhecidos pelo o que acontece de bom e não somente pela violência, pobreza e tráfico de drogas”.