Grupo de dança contemporânea adota a cidade como palco
abril 13, 2013 Deixe um comentário
A bailarina e professora de dança Camila Venturelli, 25, acordou às 7h30 naquela terça-feira, tomou seu café da manhã e saiu apressada do apartamento em que mora com os pais, no bairro de Perdizes, para buscar a amiga Josefa Pereira, na Vila Madalena. De lá, foram para o Sesc Pompeia. Peti Costa, Luciana Arcuri, Julia Salem e Isabel Reis também apareceram. O dia dos integrantes do Núcleo de Garagem estava apenas começando: após a entrevista com o VilaMundo, eles ainda teriam uma reunião com a produtora e depois ensaiariam no shopping Bourbon, localizado nas imediações do Sesc.
O coletivo está desenvolvendo “Sua Dança é um Segredo”, novo trabalho que aprofunda a dança que emerge de situações cotidianas. Segundo Costa, único homem do grupo, o espaço do shopping foi escolhido pelo fato de ser um lugar de aglomeração de pessoas.
O Núcleo de Garagem reúne há dois anos artistas que praticam a dança contemporânea. Leva esse nome porque foi na garagem da casa onde Josefa morava com o namorado, perto da estação Vila Madalena do metrô, que os jovens graduados em Comunicação das Artes do Corpo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) deram início aos trabalhos como grupo. “A gente não tinha carro e pensamos em ocupar a garagem de alguma forma. O interessante foi observar a reação dos moradores, que diferentemente dos bairros mais periféricos, têm menos relação com o próprio bairro, com a vizinhança. A gente teve que mandar uma carta para eles explicando o que estávamos fazendo ali”, lembra Josefa.
A proposta do coletivo é utilizar o espaço urbano como local de criação. Quase um ato de resistência, o Núcleo de Garagem entende que o palco é a cidade e o público, claro, é o pedestre. Além disso, não diferenciam ensaios das apresentações. Na metrópole paulistana, já foram vistos no Elevado Costa e Silva (Minhocão), Poupatempo de Santo Amaro, Terminal de ônibus da Vila Madalena, Largo da Batata e em algumas demolições, sempre ao som dos próprios ambientes.
“Enquanto uma casa é demolida e um prédio surge existe um espaço que pode ser habitado de alguma forma”, ressalta Josefa. O grupo também já enfrentou situações mais delicadas durante as performances. Um exemplo é o que ocorreu no Poupatempo, quando seguranças se aproximaram e disseram que estavam fazendo gestos inadequados.
Coletivo Núcleo de Garagem ocupa casas em demolição na Vila Madalena
O gerenciamento dos dançarinos é compartilhado e o dinheiro é investido do próprio bolso. Atualmente seis integrantes dividem as orientações de uma produtora, uma figurinista, além do apoio de Sérgio Basbawm, professor deles na universidade. “Uma das nossas dificuldades está em realizar um trabalho sem direção. Então temos que rever as estratégias o tempo todo. Além disso, dependemos bastante de editais, o que torna o processo muito burocrático”, explica Julia.
Entre um gole e outro de café, Camila reforça que uma das metas do Núcleo de Garagem é ocupar lugares na cidade inteira, cruzar pontes e chegar até a periferia. Afinal de contas a ideia da garagem surgiu com o propósito de mapear esses locais em diversas regiões de São Paulo.
A inserção da dança no espaço urbano, como essa linguagem trabalha a percepção do corpo na cidade e a proposta de atuação do coletivo serão abordados no encontro que acontecerá no dia 5/5, às 18h30, na rua Agissê, 149. Sérgio Basbaum mediará a discussão, que contará também com a presença de Luciana Bortoletto, Carolina Nóbrega (Coletivo Cartográfico) e Rodrigo Gontijo. Este encontro integra a “Mostra VilaMundo: a cultura recria a cidade”, uma realização em parceria com o Itaú Cultural que irá discutir como as linguagens da dança, música, literatura, circo, fotografia, cinema, teatro, artes plásticas e gestão cultural têm ocupado e ressignificado as cidades. Estes eventos culminarão na realização de um festival em maio, na Vila Madalena.
Assista abaixo ao vídeo da performance do Núcleo de Garagem no Minhocão: