Grupo de dança contemporânea adota a cidade como palco

Núcleo de Garagem

Julia Salem, Camila Venturelli, Josefa Pereira, Luciana Arcuri, Isabel Reis e Peti Costa

A bailarina e professora de dança Camila Venturelli, 25, acordou às 7h30 naquela terça-feira, tomou seu café da manhã e saiu apressada do apartamento em que mora com os pais, no bairro de Perdizes, para buscar a amiga Josefa Pereira, na Vila Madalena. De lá, foram para o Sesc Pompeia. Peti Costa, Luciana Arcuri, Julia Salem e Isabel Reis também apareceram. O dia dos integrantes do Núcleo de Garagem estava apenas começando: após a entrevista com o VilaMundo, eles ainda teriam uma reunião com a produtora e depois ensaiariam no shopping Bourbon, localizado nas imediações do Sesc.

O coletivo está desenvolvendo “Sua Dança é um Segredo”, novo trabalho que aprofunda a dança que emerge de situações cotidianas. Segundo Costa, único homem do grupo, o espaço do shopping foi escolhido pelo fato de ser um lugar de aglomeração de pessoas.

O Núcleo de Garagem reúne há dois anos artistas que praticam a dança contemporânea. Leva esse nome porque foi na garagem da casa onde Josefa morava com o namorado, perto da estação Vila Madalena do metrô, que os jovens graduados em Comunicação das Artes do Corpo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) deram início aos trabalhos como grupo. “A gente não tinha carro e pensamos em ocupar a garagem de alguma forma. O interessante foi observar a reação dos moradores, que diferentemente dos bairros mais periféricos, têm menos relação com o próprio bairro, com a vizinhança. A gente teve que mandar uma carta para eles explicando o que estávamos fazendo ali”, lembra Josefa.

A proposta do coletivo é utilizar o espaço urbano como local de criação. Quase um ato de resistência, o Núcleo de Garagem entende que o palco é a cidade e o público, claro, é o pedestre. Além disso, não diferenciam ensaios das apresentações. Na metrópole paulistana, já foram vistos no Elevado Costa e Silva (Minhocão), Poupatempo de Santo Amaro,  Terminal de ônibus da Vila Madalena, Largo da Batata e em algumas demolições, sempre ao som dos próprios ambientes.

“Enquanto uma casa é demolida e um prédio surge existe um espaço que pode ser habitado de alguma forma”, ressalta Josefa. O grupo também já enfrentou situações mais delicadas durante as performances. Um exemplo é o que ocorreu no Poupatempo, quando seguranças se aproximaram e disseram que estavam fazendo gestos inadequados.

Coletivo Núcleo de Garagem ocupa casas em demolição na Vila Madalena

O gerenciamento dos dançarinos é compartilhado e o dinheiro é investido do próprio bolso. Atualmente seis integrantes dividem as orientações de uma produtora, uma figurinista, além do apoio de Sérgio Basbawm, professor deles na universidade. “Uma das nossas dificuldades está em realizar um trabalho sem direção. Então temos que rever as estratégias o tempo todo. Além disso, dependemos bastante de editais, o que torna o processo muito burocrático”, explica Julia.

Entre um gole e outro de café, Camila reforça que uma das metas do Núcleo de Garagem é ocupar lugares na cidade inteira, cruzar pontes e chegar até a periferia. Afinal de contas a ideia da garagem surgiu com o propósito de mapear esses locais em diversas regiões de São Paulo.

A inserção da dança no espaço urbano, como essa linguagem trabalha a percepção do corpo na cidade e a proposta de atuação do coletivo serão abordados no encontro que acontecerá no dia 5/5, às 18h30, na rua Agissê, 149. Sérgio Basbaum mediará a discussão, que contará também com a presença de Luciana Bortoletto, Carolina Nóbrega (Coletivo Cartográfico) e Rodrigo Gontijo.  Este encontro integra a “Mostra VilaMundo: a cultura recria a cidade”, uma realização em parceria com o Itaú Cultural que irá discutir como as linguagens da dança, música, literatura, circo, fotografia, cinema, teatro, artes plásticas e gestão cultural têm ocupado e ressignificado as cidades. Estes eventos culminarão na realização de um festival em maio, na Vila Madalena.

Assista abaixo ao vídeo da performance do Núcleo de Garagem no Minhocão:

As ruas têm ouvidos: como a música pode ocupar São Paulo?

Músico se apresenta na avenida Paulista

Músico se apresenta na avenida Paulista

A tarde cai na avenida Paulista e milhares de pessoas encerram mais um dia de expediente. Calçadas lotam rapidamente de pedestres afoitos que desejam chegar em casa a tempo de jantar com a família, que querem tomar uma cervejinha com os amigos no bar, se exercitar em algum lugar ou qualquer outro motivo que os façam andar apressados. Enquanto isso, músicos espalhados ao longo da avenida tentam prender a atenção das pessoas, pelo menos por alguns minutos. Algumas param, assistem, aplaudem e isso faz com que os artistas consigam cumprir alguns dos seus objetivos: mostrar o seu talento, divulgar a arte por meio da música e romper a rotina de quem atravessa a cidade.

Hoje esses artistas ainda enfrentam empecilhos para divulgar seus trabalhos nas ruas, mas nada se compara à situação de alguns anos atrás. Em 2010, durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), uma ação da prefeitura e da Polícia Militar apreendeu equipamentos e impediu apresentações em vias públicas sob a alegação de que os músicos comercializavam CDs e que eram, portanto, vendedores ambulantes não regularizados. Após mobilizações, que se intensificaram com a prisão do guitarrista Rafael Pio, de 30 anos, a prefeitura se reuniu com os artistas. Seis meses depois, Kassab publicou um decreto regularizando o uso das ruas e avenidas para apresentações de artistas, com ressalvas – como  é o caso dos limites sonoros estabelecidos pelo Programa de Silêncio Urbano (Psiu).

A ocupação das ruas com música é objeto de discussão há muitos anos. Em 2008, o governo do estado de São Paulo encontrou uma maneira de não restringir a música somente às salas de espetáculos e colocá-la nas ruas da cidade. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) − órgão pertencente à administração − adotou dois dos oito instrumentos que haviam sido espalhados na capital paulista pelo projeto “Play me, I`m Yours”. Até hoje eles existem, sendo que um é itinerante e o outro fica na estação da Luz.

A jornalista e musicista Alessa Camarinha acredita que falta planejamento dos governos para ocupar o espaço público com a música. “O piano da Luz está mal conservado e não há nenhuma iniciativa governamental para mantê-lo em um estado ao menos decente”, complementa. Ela é responsável pelo blog “Alessa, a Cidade e os Pianos”, no qual sua impulsividade jornalística se mistura com o talento musical para realizar um mapeamento de todos os pianos presentes na cidade de São Paulo, seja em locais públicos ou privados.

O blog surgiu da necessidade que a pianista tinha de se apresentar e de uma sugestão dada por um professor da Faculdade Santa Marcelina, onde se formou em música popular. Ele sugeriu que ela procurasse um piano abandonado para tocar. Desde então, a cada 15 dias, há uma nova publicação no “Alessa, a Cidade e os Pianos”. Os posts trazem sempre um vídeo com a apresentação dela, a história que há por traz daquele piano e a relação da cidade com o local que o abriga.

Alessa já tocou em vários lugares como a estação da Sé, o teatro Décio de Almeida Prado, a PUC-SP e o Terraço Itália. Até em Vienna, na Áustria, ela já dedilhou as teclas do instrumento. “A Áustria é o país do piano. Não é a toa que a lista de pianistas renomados é enorme: Mozart, Schubert, Haydn. Enquanto aqui no Brasil o violão é o xodó da galera, na Áustria o instrumento mais popular é o piano. A maioria das famílias tem um em casa e, além disso, ele está presente nos espaços públicos também”, afirma.

Assista a um dos vídeos produzidos por Alessa para o seu blog:


Londres e Nova York

Tanto na capital inglesa quanto em Nova York os artistas de rua já se tornaram parte do cotidiano dessas cidades. Em Londres, além de regulamentados pela prefeitura, eles possuem espaços garantidos. Já nos Estados Unidos, o projeto Music Under New York, da secretaria de Transportes, promove a arte nos trens metropolitanos da “Big Aple”. Atualmente, mais de 350 grupos e artistas solos participam do projeto e mais de 7.500 apresentações ocorrem por ano.

Movimento Elefantes e a música em São Paulo

Apresentação do Projeto Coisa Fina em Olinda (PE)

Apresentação do Projeto Coisa Fina em Olinda (PE)

Como ocupar as ruas de São Paulo com música? É essa a questão que o coletivo Movimento Elefantes levará para a roda de conversa que será realizada no dia 22 de abril, no Centro Cultural Rio Verde. O encontro integra a “Mostra VilaMundo: a cultura recria a cidade”, uma realização em parceria com o Itaú Cultural, que irá discutir como as diferentes linguagens artísticas têm ocupado e ressignificado as cidades. Estes eventos culminarão na realização de um festival multiartes no dia 25 de maio, na Vila Madalena.

“A música é um alimento para a alma. Sempre que alguém está em contato com ela, é mexido, é tocado e assim o cotidiano dessa pessoa se transforma. A presença da música nos espaços públicos é muito importante”, ressalta Vinicius Pereira, contrabaixista do Projeto Coisa Fina, uma das bandas que compõem o Movimento Elefantes.

Foi durante uma viagem a trabalho para a cidade de Caracas, na Venezuela, que Pereira teve a ideia criar um coletivo de big bands em São Paulo, semelhante ao que ele tinha visto no país vizinho. Após uma intensa articulação com integrantes de outras bandas instrumentais, nasceu em 2009 o Movimento Elefantes com o objetivo de difundir a música instrumental. Para Nelsinho Gomes, baterista da banda NG8 Project, o improviso é o grande lance desse tipo de música.

Atualmente o Movimento Elefantes conta com mais de 140 músicos divididos com 11 bandas, cada uma com um estilo próprio. São elas: Arruda Brasil, Banda Jazzco, Banda Savana, Banda Urbana, Big Band da Santa, Grupo Comboio, NG8 Project, Orquestra HB, Projeto Coisa Fina, Projeto Meretrio, Speaking Jazz.

O coletivo se mantém financeiramente por meio de parcerias e shows. Na Vila Madalena, o coletivo pode ser visto toda segunda-feira no Centro Cultural Rio Verde. E, em breve, em mais um DVD. Ainda em fase de pré-produção, o novo trabalho trará uma mescla de música e história. Aguardemos.

Ouça abaixo a música “Duda no Frevo”, da Big Band da Santa:

A cidade pelas lentes do SelvaSP

SelvaSP

Coletivo SelvaSP retrata as ruas da cidade de São Paulo

Leo Eloy é natural de Guarulhos (município da Grande São Paulo) e respira fotografia desde criança, já que o pai e o tio são fotógrafos. Estuda fotografia no Senac e atualmente está debruçado sobre seu trabalho de conclusão de curso.

Victor Dragonetti, o Drago, é paulistano e quando tinha 10 anos de idade teve contato pela primeira vez com a grande descoberta de sua vida: uma câmera fotográfica Zenit “reflex”, utilizada pela mãe para registrar o seu nascimento. Mesmo sem o fotômetro funcionar direito, mãe e filho foram até o centro da cidade de São Paulo para comprar um filme. Desde então, Drago nunca parou de clicar.

Além do fato de serem fotógrafos, Leo Eloy e Drago dividem a paixão por um tipo de trabalho bem específico nessa área: a fotografia de rua.

A fotografia de rua registra o que há de mais comum: os pequenos momentos do dia a dia de uma cidade. Aquelas situações que muitas vezes passam despercebidas aos olhos de quem vive apressado, sem tempo para parar e observar os lugares por onde passa. Surgiu no final do século 19 impulsionada pela chegada das máquinas Kodak, instrumentos portáteis que popularizaram o ato de tirar fotos. O crescimento das cidades europeias também contribuiu para essa vertente da fotografia.

A professora Rita Alves, doutora em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que a fotografia permite que as pessoas percebam melhor a cidade, pois permite certo distanciamento do real. A fotografia de rua, por sua vez, provoca uma transformação na relação das pessoas com a cidade, pois elas passam a se apropriar desse lugar.

“A foto digital ajuda muito nisso porque recupera o olhar sobre a cidade, principalmente hoje que há menos tempo para se observar as ruas. Além disso, todo mundo pode andar com um dispositivo que fotografe nas mãos”, completa. Rita acredita que as redes sociais também ajudaram a resgatar essa perspectiva nas pessoas, já que elas trabalham com o fator da instantaneidade.

Coletivo SelvaSP

Criado em 2012, o SelvaSP tem como objetivo reunir fotógrafos que registram a cidade de São Paulo. Foi naquele ano, após meses de discussão entre os membros sobre uma possível cobertura fotográfica da Virada Cultural – evento que propõe a ocupação da cidade com intervenções artísticas -, que o grupo começou a se formar. A proposta era fazer um registro que fugisse dos padrões jornalísticos e cuja ideia central – retratar a relação entre o evento e a rua – emergisse das imagens.

Menos de 24 horas depois da conclusão dos trabalhos, as fotos foram colocadas em um site, dando assim o pontapé inicial para o “grupo de trabalho”, como preferem chamar o coletivo. “Aquele momento era muito propício para fazermos isso”, lembra Eloy. Drago afirma que antes de criarem o site, se alguém digitasse fotografia de rua em qualquer buscador da internet, apareceriam somente imagens registradas pelo Google Street View.

Ao todo, oito fotógrafos integram o SelvaSP. São eles: Gustavo Gomes, Rafael Mattar, Syã Fonseca, Francisco, Drago, Leo Eloy, Gustavo Morita e Padu Palmério. Cada um com ensaios, preferência e ideias particulares, mas unidos em torno da fotografia de rua, vista por Eloy como um estilo de vida. “É muito mais a experiência de estar na rua do que a própria foto. Esse é o grande lance”, complementa o estudante.

Os encontros do grupo acontecem normalmente em bares do Centro e uma das principais questões debatidas é o papel da fotografia no século 21 e o espaço que ela deve ocupar. Além disso, eles estudam maneiras de trabalhar exposições ao ar livre e fazer intervenções urbanas por meio de lambe-lambes, por exemplo.

Todo o trabalho desenvolvido pelos membros do SelvaSP é custeado pelos próprios fotógrafos, que realizam trabalhos paralelos. “A maioria das fotos que tiramos são feitas durante os nossos deslocamentos pela cidade, entre um trabalho e outro”, diz Drago. Um dos maiores desafios do grupo é tornar o trabalho do SelvaSP rentável, já que as fotografias não são comercializadas.

Mostra VilaMundo

O Coletivo SelvaSP convida profissionais e amantes da fotografia para uma roda de conversa sobre a Fotografia de Rua, no dia 22 de abril, no Centro Cultural Rio Verde. O encontro integra a “Mostra VilaMundo: a cultura recria a cidade”, uma realização em parceria com o Itaú Cultural que irá discutir como as linguagens da dança, música, literatura, circo, fotografia, cinema, teatro, artes plásticas e gestão cultural têm ocupado e ressignificado as cidades. Estes eventos culminarão na realização de um festival multiartes no dia 25 de maio, na Vila Madalena.

A ruas pelo mundo

Desde o dia 5 de março, a artista Tatiana Kahvegian está com um trabalho fotográfico exposto no restaurante Ruaa. São 11 fotografias analógicas, registradas com uma câmera Pentax K1000 em várias cidades do mundo como São Paulo, Paris, Cuzco, Nova York e Buenos Aires.

As fotografias ficarão expostas até o dia 5 de abril no restaurante Ruaa, localizado na rua Mourato Coelho, 1168 – Vila Madalena.